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A chegada mágica de 2017

29 Dec

Essa semana li com uma certa descrença a coluna de uma jornalista que gosto muito. Ela falava sobre a tragédia que foi 2016 e sobre insistirmos em planos para o Ano Novo, sendo que não há mágica nenhuma na passagem de ano. Segundo ela o que você não fez durante 2016 inteiro talvez não faça em 2017, as pessoas colocam esperança em uma data simbólica, como se fosse mágica. Concordo em partes com ela, aliás não concordo em nada com ela.

Ainda que no NOVO ANO que se iniciará nos próximos dias você não dê uma volta de 180 graus na sua vida (só lembrando que são 180 graus mesmo, porque 360 você volta para o mesmo ponto), ainda que você não mude padrões de comportamento,  não encontre um novo emprego ou seja promovido, não ganhe na loteria, não tenha um ano sabático viajando pela Ásia, Europa e Oceania, ainda que você não encontre o amor da sua vida, tenha um filho ou escreva um livro, 2017 com certeza não passará em branco, simplesmente porque a vida não é rascunho, escrevemos cada capítulo da nossa história em todos os dias da nossa existência, em momentos difíceis, em outros melhores, numa conquista aqui, num tombo ali.

A mágica acontece cada  vez que caímos e recomeçamos,  cada dia que batalhamos para colocar o pão na mesa da nossa casa, que aguentamos chefe chato, colega puxa-tapete, mau humor do marido e nosso próprio mau humor, as noites sem dormir preocupados com os filhos, o pretendente que não liga no dia seguinte, os problemas familiares, o dinheiro que quase não chega no final do mês. A vida não é bela o tempo todo, nem a minha, nem a sua, por mais que as redes sociais insistam em nos enganar e gerem uma quantidade imensa de gente infeliz, que acredita só no que vê nas imagens do Instagram.

Ninguém é plenamente feliz o tempo todo, desculpe te frustrar, mas felicidade está ligada ao caminho, às suas batalhas e ao que você aprende com elas no dia a dia, e não a grande “virada de vida”  na virada do Ano Novo.

Aqui na Inglaterra as crianças aprendem a comemorar e reverenciar a chegada de cada estação do ano, cantam músicas, aprendem sobre as belezas de cada uma delas e vivem intensamente o outono, o inverno, a primavera e o verão. Eu me emociono sempre com a chegada da primavera, porque sinto que ela renova minhas energias. Se aguardo ansiosa a chegada de uma nova estação, porque não aguardaria  a chegada de 2017?

O ano que termina amanhã não foi  nada fácil para a maioria das pessoas, eu me incluo nesse grupo, para mim e minha família foi um período de conquistas, externas e internas, mas foi também um ano de perdas irreparáveis de pessoas que amamos, em um único ano perdemos dois avós.  E vejam quão difícil seria a vida, se não olhássemos para um  Novo Ano com a esperança de que melhores dias virão, para nós, nossas famílias e para o mundo.

A mágica está em acreditar que a chegada de 2017 nos trará sim alegrias e desafios que valham a pena lutar,  está também na simplicidade de ser grato por cada amanhecer  e por estarmos nos movimentando, respirando,  por estarmos vivos e saudáveis.

Temos necessidade de acreditar em ciclos, e o fechamento de um ano e a chegada de outro é sempre um ciclo que se inicia para todos. Se cairmos no inconsciente coletivo de que a vida está uma tragédia grega para todo o mundo, aí sim seremos incapazes de exercer de forma plena nossa humanidade, com todos os sentimentos que fazem parte de nós. Conservemos a ESPERANÇA de que a virada do ano nos trará bons ventos, porque se tem uma coisa capaz de nos renovar e nos impulsionar é a ESPERANÇA, essa sim é realmente mágica.

Um 2017 cheio de momentos cafeínados e felizes para cada um de vocês, e que a colheita seja diretamente proporcional a plantação. QUE NÃO FALTE SAÚDE E AMOR, bens tão preciosos que dinheiro nenhum no mundo é capaz de comprar. 

Seja bem vindo 2017!

HAPPY NEW YEAR!

Silvia Lourenço e Família Girocoffee

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EDUCANDO COM AMOR

14 Jul

Passei a manhã adiantando meu trabalho porque a tarde de quinta-feira seria só minha e dela. Equipei minha bolsa com  celular, um livro que estou buscando referências para um trabalho, roupa extra para Valentina, garrafa de água e barras de cereais.

A ideia era ir até um centro comercial que fica a uns 30 minutos da nossa casa, lá almoçaríamos, cortaríamos os cabelos, eu e ela,  compraríamos um presente para minha sobrinha, que fará 15 anos e está fazendo intercâmbio em Londres, e passaríamos 2 horas em um Parque de Diversões dentro desse shopping, enquanto ela brinca nas piscinas de bolinhas eu costumo trabalhar.

Os planos eram maravilhosos, fui buscá-la na escola e não a vi na sala, sempre que chego ela já vem correndo me abraçar.  A professora falou que ela estava lavando as mãos, também não a encontrei no banheiro, quando voltei ela estava em um canto da sala com 2 amiguinhos, eu não a tinha visto. Valentina fazia com um dos amiguinhos uma barreira com um colchãozinho e o outro, que era menor do que ela, puxou o colchão, para minha surpresa  ela levantou a mão e bateu nele.

Eu vi a cena estupefata, minha filha é uma criança doce, comunicativa, faz amizade como quem troca de roupas, nunca a vi bater em ninguém. Imediatamente ela me viu, ficou tão nervosa que não saia do lugar, sou daquelas mães que não precisam falar nada, ela vê minha sobrancelha subindo e minha cara de reprovação se formando em 2 segundos.

Ela veio até mim e começou a falar nervosa: – “Mamãe te amo”. Ela sabe que palavras doces podem apaziguar situações, mas também já aprendeu que na nossa casa palavras tem menos valor que as ações. Eu me abaixei até ela e perguntei: – Por que você bateu no amiguinho Valentina? Volte lá e peça desculpas. Ela não quis ir e começou a apertar minhas mãos, quando está irritada ela faz isso.

Eu falei que conversaríamos depois. Saímos e perguntei por que que ela fez aquilo, ela  continuava contrariada apertando minhas mãos.

“Ok Valentina então vamos cancelar o passeio no Parque, parece que você  não se comportou bem hoje.”

Ela começou a chorar, o caminho foi de chantagem emocional, manhas e nenhuma explicação do porquê bater no amiguinho. Mantive a calma, nomeei os sentimentos que provavelmente ela estava sentindo, como raiva e frustração para que ela entendesse…. ela continuou o drama que variava entre choro e um som que mais parece com rosnado de cachorro.

Voltamos para casa, essa hora ela percebeu que era sério, não íamos mesmo no Parque,  entrou chorando mas só nesse momento senti que ela estava realmente triste e “sentida”. Eu queria sumir a ter que ver aquelas “lagriminhas” caindo da minha “cachinhos dourados”.  Meu coração já estraçalhado gritava: Leva a menina no Parque, ela vai pedir desculpas, leva mãe, leva mãe. Minha cabeça dizia: Não leva não, amar é educar.

Entramos em casa e expliquei que não fomos no Parque pelo que aconteceu, que eu gostaria de entender porque ela bateu no amiguinho que parecia não ter feito nada. Ela me contou como se sentiu quando o amiguinho puxou o colchão, reconheceu estar errada, me pediu desculpas e me abraçou, expliquei o quão rude e feio é bater num amiguinho, ela disse que amanhã quando chegar na escola vai pedir desculpas.

Educar é um dos maiores desafios que um ser humano pode ter, suprir o outro de ferramentas internas para que ele cresça forte, que seja uma pessoa justa e correta,  é duro, há-de se abrir mão de muitas coisas e estar muito envolvido. Ter filho qualquer um pode ter, criar com presença  e exemplos é que não é nada fácil. Li uma frase outro dia, não sei de quem é mas dizia: “Para ensinar você não precisa TER, mas precisa SER”,  há uma complexidade imensa nessas poucas palavras, porque para SER  você também precisa ter sido suprido de recursos internos, e infelizmente nem todos são. Às vezes a pessoa precisa procurar na vida, ou em si próprio, aquilo que não recebeu em sua família de origem.

Por aqui a gente tem muito mais perguntas do que respostas,  tentamos trabalhar o tempo todo com a intuição, não existe fórmula para educar, mas existe uma vontade imensa e disposição para acertar. Estou frustrada por ter perdido a tarde de passeios com a Valentina,  mas entre uma tarde feliz e divertida com ela e a oportunidade de ensinar-lhe que tudo o que fazemos na vida, de bom e de ruim, tem consequencias, escolhi a segunda opção.

Espero não estar errada, espero como mãe  fazer jus a dádiva que é ter recebido essa filha. Espero que outros papais e mamães, às vezes tão inseguros como eu fico de vez em quando, consigam tomar as melhores atitudes, dar os melhores exemplos.

Ela come um lanchinho, e eu preparei um café duplo para mim, bem forte e amargo, para dar um tranco nessa tarde que era para ser de um jeito, e terminou de outro. Nada que a gente não possa recuperar num outro dia, o que vale a pena é não perder a lição.

A vida voa como foguete e a cada dia que passa me vejo mais aprendiz.

Sejamos felizes!

 

 

O ÚLTIMO CUPCAKE PARA O BISAVÔ

23 Jun

Londres, 23 de junho de 2016

Chove fininho lá fora,  a paisagem da janela, tão triste e bucólica, faz eco aqui dentro nós. Meus pensamentos viajam pelo tempo e me levam para uma cidade chamada Limeira, no interior de São Paulo, onde viveu por toda a vida um dos bisavós queridos da nossa Valentina, o Bibi Careca, como o chamávamos amorosamente desde que nossa filhinha nasceu.

Eu o conheço há 14 anos, meu marido teve o privilégio de conviver com seu avô por 40, e Valentina por 4. Seu Hermindo, como a maioria o chamava, trabalhou a maior parte da vida no IBGE, e nos últimos anos, articulado como sempre foi, escrevia belos textos sobre política, e nos brindava com seu olhar crítico e inteligência. Tão bom com as palavras, tinha lá dentro dele, um dom de jornalista e escritor.

Sempre fomos recebidos em sua casa com um abraço apertado e um coração cheio de carinho. Ele adorava lembrar que o Daniel é o neto mais velho e vivia contando as histórias familiares, como se pudesse reviver, através das palavras, os tempos de alegria com os netos pequenininhos. As manhãs de domingo eram reservadas para a família, manhãs regadas a vinho, queijos, cafés e boas conversas. Nós não tínhamos dia nem hora certa para aparecer, mas não importava quando íamos, eles sempre estavam de braços abertos e sempre saíamos de lá  reconfortados com tanta coisa boa que emanava daqueles corações.

Me lembro o dia que fomos apresentar a Valentina, quando ela tinha pouco mais de 2 meses, Bibi Careca e Bibi Santa se vestiram quase como se fossem a um casamento, era dia de festa eles nos disseram, meus olhos se encheram de lágrimas. São nos pequenos gestos que nos oferecem, que reconhecemos a grandeza do amor, Bibi Careca sempre nos ofereceu seu melhor.

Ontem Valentina passou a tarde preparando cupcakes para comemorar os 90 anos do bisavô, mandaríamos as fotos para mostrarem para ele hoje no hospital, não deu tempo. Ontem a noite ele nos deixou, na véspera de completar seus 90 anos.  Nosso Bibi Careca deixa a esposa Santina, 4 filhos, 9 netos e 4 bisnetos, entre eles nossa Valentina. O bisnetinho mais novo, pequeno Matteo, ele não chegou a conhecer, infelizmente.

Hoje Valentina me viu chorar e precisei explicar para ela,  pela primeira vez, que perdemos alguém que amamos, mas que o importante é saber que ele está bem, porque agora Bibi Careca virou uma estrela brilhante lá no céu, e toda vez que olharmos para cima, numa noite estrelada, saberemos que ele está lá, em algum lugar dessa imensidão, olhando por nós.

Que Papai do Céu o receba de braços abertos querido Bibi.

Obrigada por tudo, te amaremos para sempre!

Bibis no nosso casamento

Bibis no nosso casamento

 

Valentina preparando cupcakes para o aniversário de 90 anos do Bibi

 

 

TE AMAMOS MUITO BIBI! HOJE OS ANJOS TOCAM ARPAS NAS PORTAS DO CÉU PARA TE RECEBER.