NO FUNDO EU SOU MESMO COMO UM PÃOZINHO

16 Oct

Hoje é DIA DO PÃO, que grata surpresa quando recebi um release sobre o assunto. O pãozinho nosso de cada dia tem para mim mais do que um significado gastronômico, é lembrança do coração,  emocional. Fui criada no meio de tabuleiros de pães, literalmente, lembro com um carinho extremo das brincadeiras na produção da primeira padaria da minha vida, a padaria do meu tio e padrinho, no bairro onde morávamos e onde minha mãe trabalhou por alguns anos.

Me recordo do cheiro e do barulho dos “estalinhos” dos pães enquanto descansavam já assados, esperando a hora de serem levados num saquinho marrom pelo próximo cliente, sedento daquelo gostinho de miolo quente com manteiga derretida. Hum, hum, hum!!!! Lembro de pular como louca no local proibido, o quarto de sacos de farinha… o trio parada dura: eu, meu irmão e meu primo, saíamos de lá todos brancos e enfarinhados; quando flagrados pelos adultos levávamos uma bronca, e os meninos às vezes uns tapinhas  no bumbum, forma que se educava as crianças “levadas” antigamente.

Estalando e saindo do forno

Estalando e saindo do forno

Vieram as outras padarias da família e os pãezinhos da minha vida, os da adolescência foram  na padoca da minha mãe no centro de São Paulo, dessa eu guardo lembranças de um período difícil mas com lições de luta e amor. Lembro da produção dos pãezinhos, no andar de cima, já mocinha não brincava mais entre os sacos de farinha, no alto dos meus 12 ou 13 anos passava meu tempo sonhando com o filho do entregador de leite, que nunca sequer olhou para minha cara de pirralha e cheia de espinhas, rs…

Muitos anos se passaram, a padaria foi vendida no mesmo ano que eu entrei na faculdade de jornalismo e fui trabalhar na tv, mudei minha relação com os pãezinhos, agora não mais vendia, mas comprava. O melhor dos meus dias e das reportagens na tv era a hora de parar na “padoca” para tomar o café da manhã, com cafézinho preto e um pãozinho na chapa, hábito bem paulistano, que eu adquiri nas ruas com as equipes de reportagem, no auge dos meus 18 anos.

Que tempo bom e que saudades  dos pãezinhos do meu passado, quando havia um significado diferente para as coisas, quando os sonhos e as expectativas em relação a vida nada tinham a ver com o que vivemos hoje. Da primeira infância para cá lá se vão mais de 25 anos, e as lembranças dos pãezinhos é a recordação daquilo que fui, da minha história, de onde vim, da construção da minha família de origem. É a certeza de que o passado, mesmo que por vezes tenha sido difícil, deve ser sempre aprendizado para o presente, e que devemos buscar em todas as experiências da nossa vida,  o sabor da felicidade, venha de onde vier, especialmente dos pequenos momentos.

Hoje já não tenho meu padrinho, que brilha entre as estrelas no céu, estou fisicamente longe da minha família, a quem amo profundamente e nutro extrema saudade,  mas por aqui,  além mar,  me resta sempre as boas lembranças do cheirinho de pãozinho quente…  e vocês sabem como eles crescem?

O pão cresce devido a um processo de transformação interno realizado pela levedura, o crescimento se dá por uma alteração química que acontece dentro da massa, e aí é que penso que acontece a grande  sincronicidade, hoje antes de receber o release, algumas coisas me fizeram pensar o quanto eu e o Dani estamos crescendo e amadurecendo com nossa vivência no exterior, e nessa vida de metáforas percebo que sou mesmo como um pãozinho, durante anos sofri e continuo sofrendo intensas modificações em busca de crescimento interno, e me sinto cada vez mais pãozinho assado com cheiro e sabor de vida, mais ou menos assim:  pronta para novos desafios, aquecida por dentro e recém saída do forno.

VIVA AOS PÃEZINHOS NOSSOS DE CADA DIA! VIVA!!!

Beijo estalado nos amigos, de preferência acompanhado de café!

Silvia Lourenço

 

 

 

 

 

 

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